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Psicologia do Desenvolvimento e Quadrinhos


Hoje discuti cinco quadrinhos com a turma de terceiro período do curso de graduação em Psicologia da UNIVERSO (Niterói). A discussão foi bem legal, e por isso escrevo esse relato da experiência. Como professor da disciplina Desenvolvimento: Infância, decidi indicar a leitura de alguns quadrinhos que tratam de transtornos do neurodesenvolvimento. Essa é uma forma lúdica e indireta de discutir as características de cada transtorno, os impactos sociais, os estigmas e preconceitos, os prognósticos e a vivência como PcD (Pessoa com Deficiência).


A diferença invisível é um quadrinho francês com roteiro produzido por uma mulher autista adulta, e relata sua experiência de vida convivendo com esse transtorno. De forma muito singela nos deparamos com a dificuldade para lidar com sons, com pedidos do ambiente de trabalho em relação à socialização, e diversos outros percalços pelos quais passa a protagonista da história. No meio do quadrinho há o relato de um atendimento atrapalhado em psicanálise, que nos revela o cuidado necessário com as características específicas da pessoa com autismo e a necessidade de um atendimento especializado. O fato de ser escrito diretamente pela pessoa neurodivergente traz um tempero especial, já que sua perspectiva particular reproduz grande riqueza de detalhes.


Jun é um mangá sul coreano que narra a história do personagem homônimo, um jovem rapaz diagnosticado com autismo, retratando sua história de vida da infância à idade adulta. Jun é apresentado inicialmente como um menino autista não-verbal, e as dificuldades começam a aparecer no período de escolarização, já que diversas escolas se recusam a receber o menino (Algo muito diverso da realidade brasileira, onde a rede pública de ensino tem a obrigatoriedade de garantir a inclusão de crianças PcD). Ao ter aulas de recitação de poemas, Jun desenvolve a fala, o que melhora a comunicação com a família. Com o tempo, o rapaz demonstra interesse e talento para a música, tornando-se compositor e instrumentista. Esse talento o leva a participar de grandes eventos, nos quais toca suas composições próprias na frente de grandes audiências. A história é contada na perspectiva da irmã, e o roteiro da obra foi desenvolvido a partir de entrevistas com Jun e sua família. Ao contrário do quadrinho anterior, aqui temos uma história contada em terceira pessoa.


Não era você que eu esperava trata da história de um pai muito preocupado com a possibilidade de ter um(a) filho(a) com Trissomia 21, a chamada Síndrome de Down. O início da história é marcado por essa dúvida corrosiva, que posteriormente se confirma na forma de um diagnóstico tardio. Muito mais que um quadrinho sobre Síndrome de Down, essa é uma história sobre preconceito. Isso porque ocorre porque grande parte do quadrinho é dedicada às percepções do pai sobre essa experiência, e as opiniões são sinceras porém controversas. Em determinado momento, há mesmo o desejo de abortar a criança caso ela tenha o diagnóstico, desejo esse que não é compartilhado pela mãe do bebê. Como o diagnóstico ocorre após o nascimento, a alternativa é conviver com a diferença e cuidar desse novo membro da família.


O Pequeno Astronauta narra a história de uma menina que tem um irmão com paralisia infantil. Somos apresentados às limitações, dificuldades e vivências do menino através do relato apresentado pela irmã, que se recorda de toda história ao visitar sua antiga casa em um distrito francês. Trata-se de uma narrativa bastante tocante, que nos mostra que é possível superar diversas das limitações impostas por essa condição. Chama a atenção a socialização do menino, que desenvolve inúmeras amizades em sua escola sem dizer sequer uma palavra ou mover seu corpo. Jean-Paul Eid utiliza a metáfora do astronauta para falar de uma consciência que habita um corpo inerte, como uma nave espacial em pane. Essa imagem é utilizada do início ao final do livro, do nascimento à morte de Tom.


Aprendendo a Cair nos apresenta as aventuras de um jovem rapaz com deficiência intelectual. Após a morte de sua mãe e protetora, o protagonista da história é enviado para uma instituição real, chamada Neuerkerode. Lá, ele tem a oportunidade de viver livre, cuidando de seus próprios afazeres, e desenvolvendo relações com todo tipo de pessoa. Neuerkerode é uma vila alemã gerida inteiramente por pessoas com algum tipo de deficiência. Trata-se de um projeto iniciado por protestantes cristãos, que criaram a vila e acolheram diversas pessoas com condições específicas ou sem familiares. O quadrinho é uma obra-prima sobre inclusão e integração social das PcD. Recomendo a leitura a todos(as) que se interessam por essa temática.


A turma da disciplina Desenvolvimento: Infância foi previamente dividida em grupos, e cada grupo ficou responsável por ler e trazer relatos sobre a obra escolhida. Os debates foram intensos, e os temas variaram ao longo de toda a aula. Considero essa uma experiência pedagógica bastante profícua, pois propiciou a possibilidade de uma aproximação lúdica a temas sensíveis, sem a necessidade de recorrer a textos teóricos densos e de difícil leitura. Recomendo a tática a outros(as) docentes que queiram tratar de temas como vivências PcD, inclusão e transtornos do neurodesenvolvimento.


E você, já conhecia esses quadrinhos? Se interessou por algum? Deixe sua impressão nos comentários!

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