Resenha Fenô #5: Match Point (2005) e os Crimes Sem Castigo

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Você já assistiu Match Point (2005)? Match Point, traduzido por "Ponto Final" no Brasil, é um filme de 2005 dirigido por Woody Allen. Ele conta a história de Chris Wilton, um profissional tenista que acaba encerrando sua carreira e precisa então buscar novas formas de adquirir renda e sobreviver. Em meio a essa busca por sobrevivência, Chris acaba conhecendo Nola, a herdeira de uma família muito rica e que desperta interesse amoroso no rapaz.

Ao longo da trama, somos apresentados às crises e conflitos existenciais de cada uma das personagens. Chris é um rapaz sagaz porém interesseiro, que busca em Nola uma forma de adentrar a high society de sua cidade local e conseguir alguns trocados e mimos. Nola, por sua vez, é uma pessoa extremamente insegura e mimada, não sabendo o que fazer com sua vida em meio ao luxo e conforto proporcionado por sua própria família. Os pais de Nola são os clássicos pais endinheirados, que oferecem pouco afeto e tentam compensar a ausência através de presentes e mimos. Tom é o irmão inconsequente de Nola, um rapaz sem qualquer senso de responsabilidade e que só quer aproveitar os prazeres da vida.

Cabe destacar que toda a trama se passa na Inglaterra, e Chloe é uma contraposição à cultura inglesa, manifesta na figura de uma mulher americana decidida e sensual. Chloe aparece inicialmente na trama como a namorada americana de Tom. Ao longo do filme, no entanto, os dois se separam e Chloe acaba se aproximando de Chris.

Chris, por sua vez, manifesta interesse em Chloe logo que a vê. Chloe representa para ele a luxúria e a sensualidade, enquanto sua namorada e posteriormente esposa, Nola, representa a segurança financeira e o tédio. Ao saber que Tom e Chloe haviam se separado, Chris imediatamente tenta uma aproximação, o que não ocorre em um primeiro momento.

Posteriormente, Chris e Chloe se reencontram em uma exposição, e acabam engatando um relacionamento secreto e proibido. Enquanto Nola deseja profundamente tornar-se mãe, Chris deita-se com sua amante, Chloe. A contraposição das duas figuras acaba gerando um grande conflito, mas Chris tenta manejar esse conflito e manter as duas relações.

Eventualmente, Chloe engravida e começa a cobrar de Chris uma resolução final para o relacionamento. Chris, no entanto, não tem nenhum interesse em resolver a situação, e passa a enrolar e enganar tanto a esposa quanto a amante. O clímax do filme ocorre quando Chloe dá um ultimato: ou a situação se resolve pelas mãos de Chris, ou ela mesma exporia toda a situação a Nola. Chris então se desespera e acaba assassinando Chloe.

O que se segue é uma investigação da morte da mulher grávida. A polícia chega a desconfiar de Chris, mas logo o descarta como um possível suspeito. Afinal, como poderia alguém rico e poderoso cometer tal crime? O que teria ele a ganhar? Uma das reflexões é o próprio preconceito social, que influencia a ação policial.

O filme termina com um encontro social na família de Nola, com todos felizes em torno do recém nascido bebê. Chloe e seu filho, em contrapartida, são completamente esquecidos e ignorados.

O filme é um thriller psicológico que também traz algumas discussões filosóficas. E isso não ocorre na ausência de referências, pois logo no início do filme somos apresentados a uma cena em que Chris lê "Crime e Castigo", de Dostoiévski.

Crime e Castigo é um dos grandes romances de Fiódor Dostoiévski, considerado o grande escritor-filósofo da pátria Russa. Nesse livro, o escritor debate uma grande questão filosófica: qual seria o limite da razão? O que estaria justificado sob a égide do pensamento lógico, racional e científico?

O livro narra a história de Rodion Romanovitch Raskólnikov, um jovem estudante com dificuldades financeiras e teses racionais que justificam sua própria ação. Em sua jornada pessoal, Raskólnikov se depara com uma usurária, dona de uma casa de penhores. Necessitando penhorar alguns de seus bens para dar continuidade nos estudos, Raskólnikov passa a enxergar a usurária como uma pulga a ser esmagado.

A velha senhora representaria aquilo que há de mais asqueroso na sociedade: um mero parasita se alimentar do sofrimento alheio. Sendo assim, de um ponto de vista lógico e racional, estaria justificado acabar com a vida da senhora e tomar-lhe o dinheiro. Afinal, este seria do estudante por direito, e ele poderia tomá-lo por sua própria ação. Isso porque Raskólnikov acreditava piamente nas teses hegelianas, no curso do progresso histórico, e que os "homens de ação" poderiam manejar a história a seu bel prazer. Sendo assim, seria justificado acabar com uma vida a machadadas e decidir o percurso do progresso.

Essa tese filosófica, no entanto, é colocada por Dostoiévski, com exímia maestria, como o fundamento do horror na modernidade. Em suma: "Quem mais poderia considerar-se um homem de ação, e ter o poder de decidir a história com as próprias mãos?" Em uma sociedade em que todos se creem superiores, não há espaço para o convívio e a relação humana.

Na história de Crime e Castigo, no entanto, o estudante é corroído pela culpa e acaba confessando o crime. Passa ele então por uma jornada de redenção durante e após a prisão. Curiosamente, isso não ocorre em Match Point. Chris não exibe qualquer remorso ou culpa, buscando apenas a satisfação de seus próprios prazeres e vontades. A mensagem que Woody Allen parece querer passar é: "Dostoiévski ainda é um idealista e um romântico". Talvez para Woody Allen a contemporaneidade seja um momento distinto da modernidade, uma era de "Crimes sem Castigo". Nesse sentido, Dostoiévski ainda seria um romântico otimista, que crê na possibilidade de redenção e reparação.

E você, já conhecia essas discussões? Já leu o livro e viu o filme? O que achou? Deixe suas impressões aí nos comentários!